Depois das peças “O Grito do Peixe” e “Levanta os Braços como Antenas para o Céu”, criadas com o envolvimento de grupos específicos, “Silêncio” assenta num processo de criação menos conduzido, que dispensa consensos e abre espaço a uma maior liberdade criativa, numa colaboração entre Clara Andermatt, F. J. Ossang, Peter Michael Dietz e Vítor Rua.
Uma procura pluridisciplinar dos silêncios de cada um, no movimento do dueto interpretado por Andermatt e Dietz, na projeção das imagens que evocam a poesia – e o silêncio – de paisagens portuguesas captadas por Ossang, e nas sonoridades compostas por Rua.
“Em Silêncio conta-se uma história que não tem inicio nem fim – apenas aparece e desaparece. O tempo é o portador do enredo performativo e o referente essencial para a compreensão da peça. O objetivo foi o de, a um evento, acrescentar um outro, depois outro e ainda outro, sem qualquer relação aparente, excepto o puro encanto de construir um abstracto encadeamento cinético. Se os eventos numa determinada peça se colam uns aos outros numa ordem particular é porque essa ordem vai necessariamente influenciar ou mesmo constituir o sentido da própria peça: abstrações, movendo-se, criando tempo – tornando visível o tempo! Em Silêncio não encontraremos nem passado nem futuro – só presente. Foi isto que sentimos ao imaginar esta peça: uma sensação de presente infinito…”
Clara Andermatt (2006)