“Polaroid” resulta de um processo a que Clara Andermatt designou de “Projeto Pirata”, uma série de residências com profissionais de várias áreas artísticas ao longo de seis meses, entrando em zonas alheias para confrontar metodologias, processos criativos, técnicas e lógicas de articulação dos respectivos discursos.
“Polaroid” atravessa várias linguagens estruturadas no discurso coreográfico. Contempla a presença constante e ativa de um écran gigante que convoca uma cumplicidade com o palco, tanto plástica como narrativa. Nesta perspectiva, o tratamento do vídeo, luzes, cena e banda sonora, não tem uma função ilustrativa, pelo contrário: faz parte integrante da própria dramaturgia.
Os elementos musicais, de João Lucas, e o vídeo, de Ruy Otero, entrelaçam-se profundamente num espetáculo conceptual, pautado pelo espanto tecnológico e pela ideia de videojogo. O Outro surge no plano da imagem como um duplo de si mesmo, num prolongamento virtual que se substitui ao próprio.
Através de um jogo de espelhos, entre o virtual e o real, “Polaroid” convida a questionar as velocidades que quotidianamente se jogam, metaforizando o tempo de aceleração e de excessos que atualmente se vive.
“Polaroid” é uma personagem em jogo. Auto-programada para sobreviver, como num videojogo, compulsivo, dual e lúdico. O corpo é preso pela imagem, as palavras correm como questões em cadeia para fora do seu corpo imóvel. Incorpora todas as experiências que viveu como se condensasse naquele momento toda a sua vida: uma corrida do princípio ao fim. Um ciclo imparável em que a morte é o início da etapa seguinte.